O escritório de direitos humanos da ONU convocou nesta sexta-feira (7) uma investigação independente, e em linha com os padrões internacionais, sobre a operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro contra o tráfico de drogas na favela do Jacarezinho, zona norte da cidade, que resultou em 25 mortes, incluindo a de um policial.
Cinco pessoas ficaram feridas, dentre elas estão dois passageiros do metrô do Rio que foram atingidos por projéteis dentro de um vagão durante o percurso que o trem fazia próximo à comunidade.
A operação de quinta-feira (6), que fez uso de helicópteros e carros blindados, é apontada como uma das mais mortais em uma década, em uma longa história de uso “desproporcional e desnecessário” da força pela polícia, disse o porta-voz dos direitos humanos da ONU, Rupert Colville, em uma entrevista coletiva em Genebra.
Além do confronto em área residencial, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro afirmou em entrevista coletiva na última quinta-feira (6) que as informações divulgadas por moradores, entidades de direitos humanos e veículos de imprensa apontam para a possibilidade de realização de execuções durante a ação.
“O primeiro choque foi a quantidade de sangue. Muitos muros cravejados de bala. Muitas portas. Duas casas impactaram muito. Na primeira, a família foi retirada e ali morreram dois rapazes. A casa estava repleta de sangue, massa encefálica. E a senhora que mora estava muito impactada.
A segunda casa tinha uma criança de 8 anos. Um rapaz foi executado ao lado dessa criança. Chamou a atenção também, porque, pelos relatos, esses dois casos aconteceram em execuções. Essas pessoas foram tiradas já mortas”, afirmou a defensora pública do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos Maria Julia Miranda.
As vítimas incluíam um policial. Segundo informações oficiais reportadas até o momento, as demais vítimas seriam suspeitos de pertencer à organização criminosa que domina a favela, incluindo alguns de seus líderes, informou a polícia. No entanto, não há informações com base em investigação de legistas que comprovem que todas as vítimas tinham ligação com o crime organizado.
Alguns dos alvos da operação no bairro periférico do Jacarezinho tentaram escapar pelos telhados das casas quando a polícia chegou em veículos blindados e helicópteros que sobrevoaram a área, como mostraram imagens de televisão. O tiroteio obrigou os moradores a se abrigarem em suas casas.
Essa foi a operação policial mais mortal em 16 anos no estado do Rio, que há décadas sofre com a violência relacionada às drogas em suas inúmeras favelas.
Por: R. Amaral/Márcia Chaves | Fonte: CNN | 07/05/2021