Número de assassinatos durante motim da PM no Ceará chega a 88; batalhões seguem ocupados - Rádio Liberdade FM Online

Número de assassinatos durante motim da PM no Ceará chega a 88; batalhões seguem ocupados

Duas irmãs foram mortas na cidade de Pacatuba, na Grande Fortaleza, na noite desta sexta-feira (21). Crime acontece em meio à paralisação de policiais. — Foto: Rafaela Duarte/SVM

O Ceará já registra 88 assassinatos entre a meia-noite de quarta-feira (19) e 23h59 de sexta-feira (21), em meio à paralisação de policiais no estado. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública do Ceará (SSPDS), divulgados nesta manhã. O motim dos agentes de segurança teve início na terça-feira (18). Neste quinto dia de movimento, batalhões em Fortaleza, na região metropolitana e no interior permanecem fechados e com PMs amotinados.

Desde terça-feira, homens encapuzados que se identificam como agentes de segurança do Ceará invadiram quarteis e depredaram e esvaziaram pneus de veículos da polícia. Policiais militares reivindicam aumento salarial acima do proposto pelo governador Camilo Santana.

Os números anteriores da Secretaria da Segurança do Ceará (SSPDS), referentes ao período entre 6h de quarta-feira (19) e 6h de sexta-feira (20), apontavam 51 homicídios.

A onda de violência continua apesar dos reforços na segurança com a presença de 2,5 mil soldados do Exército Brasileiro, dentro da Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) decretada pelo presidente Jair Bolsonaro para o Ceará, além de 150 agentes da Força Nacional que já estão no estado para conter a crise na segurança pública após o motim de parte dos policiais militares.

Dupla armada é morta em tentativa de assalto

Em Fortaleza e região metropolitana, foram pelo menos 15 assassinatos. No Bairro Montese, duas pessoas armadas foram mortas a tiros quando tentavam assaltar um policial à paisana, em um posto de gasolina, na noite de sexta-feira. O agente estava dentro do carro com a família no momento da abordagem. Os suspeitos ordenaram que os passageiros saíssem do veículo, mas foram atingidos por disparos feitos pelo policial.

Na cidade de Pacatuba, na Grande Fortaleza, duas irmãs foram mortas na calçada de casa, por dois homens em uma motocicleta, também na noite de sexta-feira. As vítimas tentaram fugir, mas foram perseguidas pelos suspeitos e tombaram sem vida no quintal da residência.

Homicídios também foram registrados no interior. Os municípios de Juazeiro do Norte, Crato, Campos Sales e Missão Velha, no sul do Ceará, somaram sete mortes entre a tarde de sexta e a manhã deste sábado.

Batalhões seguem ocupados

Carros das forças de segurança do Ceará continuam com pneus furados ao redor do 18º Batalhão da Polícia Militar.  — Foto: Fabiane de Paula/SVM

Carros das forças de segurança do Ceará continuam com pneus furados ao redor do 18º Batalhão da Polícia Militar. — Foto: Fabiane de Paula/SVM

Batalhões da Polícia Militar seguem ocupados na manhã deste sábado (22) em várias regiões do estado. Pelo menos oito unidades seguem inoperantes e com PMs amotinados. Na noite de sexta-feira (21), um carro da polícia foi alvo de tiros.

Um dos primeiros a registrar motim, o 18º Batalhão da Polícia Militar, no Bairro Antônio Bezerra, na capital, está rodeado de carros da polícia com pneus esvaziados nesta manhã, e há policiais e familiares ocupando a unidade.

O G1 percorreu batalhões de Fortaleza e da região metropolitana neste sábado e constatou que, além do 18º Batalhão, outras unidades estão inoperantes e com PMs amotinados. No 12º Batalhão, na cidade de Caucaia, há cerca de 30 carros da corporação parados e movimentação de policiais paralisados na rua.

No 14° Batalhão localizado em Maracanaú, cerca de 30 carros permaneciam ao redor da unidade com pneus furados ou secos. No 16° Batalhão, no Bairro Messejana,a unidade segue fechada e cerca de 23 viaturas estavam no pátio.

No 17º Batalhão, no Conjunto Ceará, viaturas estavam fazendo o bloqueio das duas entradas da unidade. Apesar disso, 21 policiais se apresentaram espontaneamente.

Em Juazeiro do Norte, PMs do 2º Batalhão se concentram no estacionamento do Vapt-Vupt da cidade. Até esta sexta-feira (21), ao menos 10 dos 43 batalhões do estado estavam ocupados pelos manifestantes.

Na cidade de Sobral, Região Norte, os policiais continuam amotinados na Base da Ciopaer e do Raio.

Outros 150 agentes da Força Nacional devem chegar ao Ceará neste fim de semana, segundo o comandante de 10ª região militar, Fernando da Cunha Mattos. As Forças Armadas atuam, principalmente, no patrulhamento em cidades da Região Metropolitana de Fortaleza desde a manhã desta sexta, e o envio para o interior vai depender da necessidade, segundo o Exército.

Resumo:

  • 5 de dezembro: policiais e bombeiros militares organizaram um ato reivindicando melhoria salarial. Por lei, policiais militares são proibidos de fazer greve.
  • 31 de janeiro: o governo anunciou um pacote de reajuste para soldados.
  • 6 de fevereiro: data em que a proposta seria levada à Assembleia Legislativa do estado, policiais e bombeiros promoveram uma manifestação pedindo aumento superior ao sugerido.
  • 13 de fevereiro: o governo elevou a proposta de reajuste e anunciou acordo com os agentes de segurança. Um grupo dissidente, no entanto, ficou insatisfeito com o pacote oferecido.
  • 14 de fevereiro: o Ministério Público do Ceará (MPCE) recomendou ao comando da Polícia Militar do Ceará que impedisse agentes de promover manifestações.
  • 17 de fevereiro: a Justiça manteve a decisão sobre possibilidade de prisão de policiais em caso de manifestações.
  • 18 de fevereiro: três policiais foram presos em Fortaleza por cercar um veículo da PM e esvaziar os pneus. À noite, homens murcharam pneus de veículos de um batalhão na Região Metropolitana.
  • 19 de fevereiro: batalhões da Polícia Militar do Ceará foram atacados. O senador Cid Gomes foi baleado em um protesto de policiais amotinados.
  • 20 de fevereiro: policiais recusaram encerrar o motim após ouvirem as condições propostas pelo Governo do Ceará para chegar a um acordo.
  • 21 de fevereiro: tropas do Exército começam a atuar nas ruas do Ceará.

Salários

Policiais do Ceará se reuniram com senadores para ouvir propostas do governo estadual.  — Foto: Kid Junior/SVM

Policiais do Ceará se reuniram com senadores para ouvir propostas do governo estadual. — Foto: Kid Junior/SVM

Os PMs têm feitos os motins para pressionar por aumento salarial. A proposta do governo é aumentar o salário de um soldado da PM dos atuais R$ 3,2 mil para R$ 4,5 mil, em aumentos progressivos até 2022. O grupo de policiais que realiza as manifestações reivindica que o aumento para R$ 4,5 mil seja implementado já neste ano.

Na noite de quinta-feira (21), houve um encontro entre representantes dos policiais que participam do motim e uma comissão de senadores para por fim à paralisação. Mas, não houve acordo. Um dos pontos discutidos foi a anistia aos integrantes do movimento, mas o governo do Ceará diz esse ponto é inegociável.

A Constituição proíbe greve de agentes de segurança, como policiais militares, policiais civis, bombeiros e agentes penitenciários. Em 2017, o Supremo Tribunal Federal (STF) reiterou o veto. A maioria dos ministros entendeu que, por se tratar de um braço armado do Estado, a polícia não pode fazer paralisação porque isso prejudica e afeta toda a sociedade. A decisão teve repercussão geral, ou seja, vale para todos os casos de greve de polícias que cheguem a qualquer instância da Justiça.

Motim em batalhões no Ceará — Foto: Aparecido Gonçalves/G1

Motim em batalhões no Ceará — Foto: Aparecido Gonçalves/G1

[Por: R. Amaral | Fonte: G1 | 22/02/2020]